Dor, oração e amor…


Por: Priscila Siqueira (Fraternidade de São José dos Campos e Litoral Norte Paulista)

“Veccihiaia e bruta” (Velhice é malvada) já ouvia minha avó italiana dizer, quando eu era pequenina.

 

Pois é irmãs e irmãos de nossa Fraternidade Leiga do Irmãozinho Carlos,

Meu marido, João Augusto, gosta de afirmar que quem passou dos sessenta, setenta anos e acorda sem sentir dor alguma, morreu e não percebeu… Dizendo isso, ele me lembra que envelhecer é um processo normal mas que cobra seu preço. Carro velho não tem peça de reposição…

 

Com o avanço da Medicina nos últimos tempos, estamos vivendo muito mais do que era esperado para a maioria da população no passado. Claro que sempre havia um ou outro que vivia até mais tarde, mas no geral, como um todo, o ser humano tinha uma vida  muito mais curta.

 

Quem da minha época (vou fazer 85 anos, próximo mês) não se lembra das “balzaquianas”, isto é, mulheres de trinta anos casadas ou não. Trinta anos e não se casou, ficou para “titia”…

 

Uma pessoa de sessenta anos era ‘velhinha”. Lembro-me de minha avó com essa idade, sempre vestida de preto, ou azul-marinho ou cinza, o cabelo preso em birote e proibida pelas filhas de mexer na horta, coisa que mais gostava de fazer. “ A senhora está muito velha para trabalhar”, diziam elas para protegê-la. Atualmente uma pessoa de sessenta anos, pode estar no auge de sua capacidade intelectual.   

 

Sim vivemos mais, mas em compensação temos tantos amigos e amigas com doenças degenerativas cerebrais ou não. Dona Canô, mãe de Caetano Veloso, costumava dizer, “só fica velho quem não morreu”. Portanto, temos de dar graças só Criador- mais Mãe que Pai- que nos permite ainda gozar nossas vidas e o que ela tem de bom.

 

Uma coisa eu percebi no meu processo de envelhecimento. As dores que sentimos, por vezes no corpo todo, são uma forma de oração que fazemos ao Criador. Quando sentimos uma dor, estamos vivenciando e partilhando um pouco do sofrimento do Cristo na tortura da Cruz.

 

Mesmo quando a dor é tão forte que nos tira toda energia para tentar orar, nada mais é preciso que senti-la, oferecê-la a Deus e pronto : A oração está sendo feita.

 

Então, manas e manos queridos, só nos resta ter a humildade em aceitar que não termos mais trinta anos, mas continuar lutando - dentro de nossas possibilidades -por um mundo mais fraterno e igualitário.

 

Não seria isso que o nosso Irmãozinho Carlos teria feito se lhes tivessem tirado sua vida tão cedo, aos cinquenta e oito anos?...

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