RUAH


Por: Priscila Siqueira (Fraternidade de São José dos Campos e Litoral Norte Paulista)

Queridas irmãs e queridos irmãos da Fraternidade Leiga do Irmãozinho Carlos,


Comemoramos no domingo passado, a Vinda do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos, a festa de Pentecostes. Uma festa da Igreja que devia rememorar o Feminino de DEUS, uma vez que, no hebraico e no aramaico - língua falada por Jesus - essa palavra era feminina - RUAH. Palavra que foi traduzida para o grego no neutro e para o latim, no masculino “spiritus”.


Ruah – o Espírito de Deus, era também traduzido como “sopro de vida, alento, hálito divino, respiração, brisa, ventania”.


“Ventania”, a mesma ventania que assombrou a todos os que estavam em Jerusalém, quando a Igreja primitiva foi tomada pelo Espírito Santo. Ventania que leva a sabedoria e o discernimento às nossas mentes.


Eu me pergunto por que nossa Igreja reluta tanto em pôr em prática as palavras do Papa João Paulo I quando disse que “Deus é mais Mãe do que Pai”. (Que  morreu pouco tempo depois de dizer isso…) Deus é Pai e Mãe, masculino e feminino.


Em que Missa ou outro ritual católico já ouvimos serem repetidas essas palavras de João Paulo I?…


O mais antigo nome para Deus no hebraico era “Elohim”, uma palavra no plural de origens obscuras, que podia ignificar “deusas” ou “deuses” e, também usada para significar “espíritos dos ancestrais”.


Para o biólogo e bioquímico inglês, Rupert Sheldrake, no livro “Deus em todos os mundos”,   “Apesar da palavra Deus por convenção, ter sido usada no masculino  já na Idade Média, místicos como o dominicano alemão Meister Eckhart dizia: Deus permanece na cama maternal - como a mulher que deu a luz - em cada boa alma que abandonou a ideia de se centrar em si mesma, mas ao contrário, recebe Deus para nela morar”.


As consequências de uma visão unilateral de Deus, quando O imaginamos somente como homem, macho, são terríveis. Temos uma História Humana baseada na competição própria do masculino, nos conflitos, nas guerras, na ganância do vencedor.


Para os gregos, havia dois tipos de Vida: Zoé que representava a fauna, a flora, os escravos e a mulher. Essa Vida estava em função da outra: BIOS.


Bios era formada pelo homem saradão, machão, que por sua vez, vivia em função da Guerra.


Parece que essa visão grega do mundo, que influenciou muito nossa sociedade, ainda prevalece nos tempos atuais. Por que tanta guerra, conflitos armados, genocídios ainda nos dias de hoje? Por que a ganância que destrói pessoas e a natureza???


Quando o Papa Francisco declara que a Igreja e a Religião têm de dar lugar ao feminino que dá a vida, perdoa e afaga o pequenino, ele está chamando a nossa atenção para o futuro da Humanidade. Que será de nós se, a aniquilação de nossa casa comum, a Mãe Terra continuar?! O que agora acontece no Rio Grande do Sul só é uma amostra do que poderá acontecer no futuro, caso esse processo civilizatório que vivemos permaneça. Civilização que não respeita nem o ser humano, nem a natureza, mas só tem por objetivo o lucro?!...


Deus é sobretudo Amor e Justiça, que contém o masculino, o feminino, todas as etnias dos seres humanos, todas as tendências sexuais. Nada nEle/nEla é discriminado.


Precisamos construir uma História de colaboração, de perdão, de ajuda recíproca. Temos que colocar os valores ditos femininos (mas que os varões também os têm) na História Humana.


Caso isso não aconteça, fica aqui a reflexão da poetisa Hilda Hilst:

“Que será de nós, se em pouco tempo, não abrirmos nossos corações ao infinito?”


Vejam também nossos boletins aqui



Postar um comentário

0 Comentários